aedes aegypti

Em fevereiro deste ano, a cidade de Alto Paraíso de Goiás (GO), na Chapada dos Veadeiros, registrou dois casos de febre amarela: um rapaz de 22 anos, morador recente do município, e um turista belga que visitou a região. O morador morreu poucos dias depois e o turista se recuperou. Nenhum dos dois havia sido vacinado contra a doença.

A febre amarela é uma doença infecciosa viral aguda, transmitida por mosquitos, presente em países da África e das Américas Central e do Sul. A transmissão pode ocorrer de duas formas: silvestre e urbana. Mas se trata de uma só doença. No ciclo silvestre, os vetores são os mosquitos Haemagogus e Sabethes que transmitem a febre amarela ao picarem um macaco doente e, em seguida, uma pessoa.  No ciclo urbano, o veículo do vírus é o mosquito Aedes aegypti, o mesmo transmissor da dengue.

No Brasil, desde 1942 não há registro de transmissão da febre amarela em ambientes urbanos. Ou seja: há mais de 70 anos não é identificado nenhum caso da doença no país provocado pela picada do mosquito Aedes aegypti. A eliminação deste ciclo urbano foi possível pela existência de uma vacina eficaz e pelas campanhas nacionais para imunização combinadas ao combate ao mosquito vetor.

Como a transmissão silvestre da febre amarela não é erradicável, porque envolve primatas não humanos (macacos), a vacina continua sendo recomendada para moradores e visitantes de áreas onde foram notificados casos suspeitos da doença.

Em comparação com as orientações do Ministério da Saúde brasileiro em 1998, foi ampliada a faixa do território nacional na qual existe recomendação para a vacinação contra a doença. A vacinação é exigida dos viajantes provenientes de países onde a doença ocorre, em cumprimento ao Regulamento Sanitário Internacional.

O mapa elaborado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde em 2013 identifica uma região que atravessa vários estados do país onde existe a possibilidade de contaminação pelo vírus. Por exemplo, alguns municípios do Rio Grande do Sul só foram incluídos em 2008. Os estados de São Paulo e Minas Gerais também tiveram ampliadas as áreas com recomendação para a vacina depois da notificação de casos.

 

Circulação do vírus

A decisão de incluir uma área não é tomada somente quando acontece um surto epidêmico, e sim a partir de situações nas quais existe a preocupação de que a doença chegue à população. Por isto, a notificação de casos de febre amarela - em humanos e em macacos - e a identificação do vírus em mosquitos capturados são meios fundamentais para evitar a transmissão.

O aumento da circulação da população nas regiões afetadas e as falhas no controle epidemiológico de países vizinhos são prováveis motivos para a ampliação das áreas onde a vacinação é recomendada, segundo o pesquisador Fernando Verani, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz): “Hoje as pessoas têm mais acesso a viagens, com o crescimento da classe média. Os aeroportos estão lotados.”

O caso do turista belga que contraiu a doença após visitar a Chapada dos Veadeiros ilustra uma possibilidade de circulação do vírus. Ele foi diagnosticado com febre amarela quando já estava no Rio de Janeiro e começou a sentir os sintomas da doença.

Mesmo que não exista a chance de transmissão de pessoa a pessoa nem de animal para pessoa, a presença do Aedes aegypti em muitas cidades brasileiras é um fator que justifica a atenção da vigilância. Embora remota, a reurbanização da febre amarela no Brasil não é descartada. “É possível. O vírus circula em áreas urbanas onde há o vetor, o Aedes aegypti”, diz Verani.

Àqueles que vão viajar para qualquer localidade no Brasil ou no exterior, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) indica que consultem um dos Centros de Orientação para a Saúde do Viajante.

A vacina é oferecida gratuitamente em postos de saúde municipais ou estaduais. Para garantir imunidade, precisa ser tomada no mínimo dez dias antes da viagem. O certificado de vacinação emitido pelo posto de saúde deve ser guardado. Com ele em mãos, pode-se obter o Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxia (CIVP).

 

Uma dose e um reforço

Desde 2013 a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) passaram a recomendar que a vacina contra a febre amarela (antiamarílica) seja aplicada em dose única, emitindo certificado internacional para o viajante vacinado que mora ou tenha visitado as áreas onde é recomendada a vacinação. Antes dessa revisão, era preciso repetir a aplicação a cada período de dez anos.

No Brasil, no entanto, com base em estudos sobre a resposta à imunização, foi adotado o critério de indicar aos moradores ou visitantes das regiões de circulação do vírus da febre amarela um reforço da vacina após dez anos da primeira dose. Para o pesquisador Luiz Antonio Camacho, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), a revacinação é um procedimento que se justifica pela análise dos dados sobre o tempo de imunidade dos vacinados.

Em levantamento feito pela Assessoria Clínica do Instituto de Bio-Manguinhos, da Fiocruz, constatou-se que 75% dos indivíduos vacinados contra a febre amarela tinham anticorpos detectáveis dez anos depois, mas 25% não tinham esses anticorpos detectáveis (o que não significa que não os tivessem, mas que não foram identificados nos exames). A revacinação seria, portanto, uma garantia.

“A vacina é barata, eficaz e relativamente segura. Os eventos adversos graves são raros, de um caso para um milhão de pessoas vacinadas”, argumenta Camacho.  Outro dado a favor da aplicação da segunda dose da vacina depois de dez anos é o fato de os eventos adversos graves, que já são raros na primeira dose, serem quase inexistentes nas doses subsequentes. As exceções são as reações anafiláticas e outras, de natureza alérgica, que podem ocorrer nas doses de reforço porque houve sensibilização na primeira dose.

 

Por Marcia Lisboa / Fiojovem - Agência Fiocruz de Notícias