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- Categoria: Coronavírus | covid-19
- By Jackson Campos
Quando a vacina contra o COVID-19 for aprovada, quem pagar mais recebe primeiro
Texto por Jackson Campos - Head Global de Pharma & Healthcare na Asia Shipping. Graduado em comércio exterior, pós graduando em gestão industrial farmacêutica e pós graduando em healthcare e supply chain.
Se há algo em pauta em todas as mídias são temas relacionados à vacina contra a Covid-19, seja tentando encontrar maneiras simplificadas de informar a população em geral sobre como as vacinas funcionam e a importância de tomá-las, ou ainda explicando as dificuldades da distribuição e de como manter a temperatura desde a produção até o paciente que será imunizado, passando pelos desafios que incluem a temperatura de transporte e armazenagem.
Outra linha é a de prioridade de imunização, uma vez que os profissionais da saúde deveriam ser os primeiros a ser imunizados por estarem em contato constante com o vírus, seguidos das pessoas com idade mais avançada e depois com comorbidades, até que a população seja imunizada como um todo.
Mas, e em relação à prioridade econômica?
São oito bilhões de pessoas pelo mundo que provavelmente deverão tomar duas doses da vacina aprovada para serem totalmente imunizadas.
Alguns países estão fazendo investimentos impressionantes em contratos de intenção de compra com os desenvolvedores, como o que o governo federal do Brasil fez com a Astrazeneca, que produz a vacina desenvolvida pela Oxford, ou como o que o Instituto Butantan fez com a chinesa Sinovac Biotech, já tendo, inclusive comprado milhões de doses, por exemplo.
Pelo mundo, governos dos Estados Unidos e Europa não só fizeram acordos de compra do imunizante com a Pfizer, Johnson, Moderna e outras fabricantes, mas também investindo pesado com recurso do estado em empresas de logística para que a vacina seja ela qual for a aprovada, chegue o mais rápido possível, como no caso dos Estados Unidos, que já fecharam contrato com a McKesson, maior distribuidora de medicamentos estadunidense, para que ela distribua pelo país a vacina que for aprovada, de acordo com o New York Times.
Tendo feito um panorama de como está o planejamento nas nações de primeiro mundo e em desenvolvimento, pode-se dizer que pouco se fala sobre a vacinação em países de terceiro mundo, como os do continente africano e da América Latina.
O continente africano notificou em maio apenas 55 mil infecções enquanto Europa e Estados Unidos beiravam juntos os 3 milhões de casos e no final de outubro a soma dos testes positivos na África tinha cerca de 1,5 milhão de casos, enquanto o mundo já tinha mais de 1 milhão de mortos.
Segundo o pesquisador do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Cris-Fiocruz) Augusto Paulo Silva, ouvido pela Agência Brasil, podem ser quatro os motivos pelos quais o continente africano tem uma baixa taxa de contaminação, sendo elas: histórico de pandemias, já que o continente tem enfrentado diversas nas últimas décadas, que pode ter criado um plano mais eficiente de contingência; alta imunidade, uma vez que as pessoas sofrem de diversas enfermidades e acabam tendo sua imunidade aumentada naturalmente; o fator etário, tendo em vista que a maioria da população é jovem e o vírus aparece mais em pessoas idosas; e a baixa comunicação do continente, que poderia ter evitado que as pessoas tivessem contato com o resto do mundo, argumento que é sustentado pelo dado de que os países mais desenvolvidos da África têm um volume de contaminação maior que os menos desenvolvidos; contudo, Augusto não falou sobre possibilidade de subnotificações, ou seja, se a quantidade de testes é suficiente para a população e se casos assintomáticos estão passando sem ser notificados.
Seja por um dos quatro motivos acima ou por subnotificação, o que se sabe é que a vacina deve chegar primeiro nos países desenvolvidos, que possuem maior poder econômico, e uma possível evidência disso é o acordo que o maior armador de navios do mundo fez com uma empresa americana que desenvolve uma das candidatas à vacina e que prevê a entrega de pelo menos 1 bilhão de doses à países emergentes em 2021, sendo por meio marítimo e aéreo. O que gera curiosidade é o fato de o armador trabalhar principalmente no modal marítimo, apesar de ter em seu escopo de serviços, uma cadeia de suprimentos integrada por meio de parceiros.
Outro ponto a observar são os números de desenvolvimento humano dos países da América Latina, que chegou aos 10 milhões de casos em outubro e se tornou o principal epicentro da doença no mundo no segundo semestre do ano.
O índice de Desenvolvimento Humano do país mais desenvolvido é 20% menor que dos países considerados desenvolvidos, sendo que o índice leva em consideração a renda, educação e saúde. Estar abaixo da linha dos desenvolvidos pode ser resultado de muitos fatores, como falta de saneamento básico para toda a população e pouco acesso à uma alimentação básica de qualidade, por exemplo.
Para que as vacinas sejam transportadas e armazenadas de maneira eficiente, todas elas vão precisar serem mentidas em um determinado intervalo de temperatura, podendo ser aquele dos refrigeradores comuns, entre 2 e 8°C, chegando até a temperaturas ultra geladas de -70°C. A temperatura utilizada no armazenamento, transporte e distribuição da vacina irá depender de orientação do fabricante do imunizante que será aprovado.
Para que a distribuição seja possível se faz necessária uma produção em larga escala de refrigeradores, materiais refrigerantes, como gelo seco, frascos que tenham capacidade de resistir à temperaturas baixas, uma frota de caminhões para transporte e armazéns para acondicionamento, o que pode ser algo totalmente fora da realidade de nações que não conseguem sequer alimentar suas crianças.
Sobra ao leitor torcer para que as pessoas tenham a chance de lutar contra a pandemia e se imunizar independentemente de cor, credo, orientação sexual, nação ou poder aquisitivo.