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- Categoria: Estudo e Pesquisa
- By Fábio Reis
Novo medicamento reduzirá tratamento da malária para apenas um dia
Em no máximo três anos, um novo medicamento de combate à malária, que reduzirá o tratamento da doença do tipo vivax de 14 dias para apenas um dia, deve estar disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Com aplicação em dose única, a tafenoquina passou pela fase final de testes em humanos e os resultados sobre a eficácia do medicamento foram apresentados, nesta segunda-feira de manhã, em Manaus, na 6ª Conferência Internacional sobre Pesquisa de Plasmodium Vivax, no Tropical Hotel, na Ponta Negra.
A malária transmitida pelo parasita Plasmodium Vivax é responsável por 90% dos casos de infecção da doença do País, conforme o pesquisador da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), Wuelton Monteiro. Em parceria com a Fiocruz, de Porto Velho (RO), a FMT, de Manaus, trabalhou com centros de estudos de mais quatro países – Indonésia, Tanzânia, Peru e Tailândia – em um projeto que durou dois anos, entre 2014 e 2016, para desenvolver o novo medicamento.
Em Manaus, 100 pacientes foram tratados com tafenoquina durante a fase de testes em humanos. Mas no total, mais de 300 pessoas infectadas com a malária vivax ao redor do mundo receberam doses do comprimido nesta 3ª e última etapa da pesquisa antes do registro do produto. Devido a burocracia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conforme Monteiro, deve lançar o medicamento na rede pública de saúde em dois ou três anos.
“O novo tratamento foi muito promissor, mesmo sendo uma droga tomada em um único dia demonstrou bastante eficácia e segurança, então, o laboratório pode solicitar o registro aos órgãos competentes. De fato, é uma promessa”, afirmou o pesquisador da FMT.
Atualmente, dois medicamentos antimaláricos combinados (cloroquina e primaquina) são usados para o tratamento da malária vivax, mas o paciente costuma tomar a medicação entre sete e 14 dias. O combate à doença a base do novo remédio, a tafenoquina, irá substituir a terapia com a primaquina. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu como meta a ser alcançada a eliminação da malária em no mínimo em 35 países até o ano de 2030.
“A primaquina e tafenoquina são as duas únicas drogas conhecidas para uso em humanos que fazem a chamada cura radical, que é a eliminação completa dos parasitas no organismo. Eliminam, inclusive, as formas latentes que ficam no fígado e são responsáveis pelas recaídas da malária vivax”, disse Wuelton Monteiro.
Pela primeira vez no País, a 6ª Conferência Internacional sobre Pesquisa de Plasmodium Vivax, que começou no último domingo e vai até esta quarta-feira (14), no centro de Convenções do Tropical Hotel, na Ponta Negra, debaterá outros temas. Mais de 400 pesquisadores de 33 países, entre biólogos e profissionais da área da saúde, também debaterão o acesso ao tratamento da malária, a epidemiologia e vigilância, o mapeamento e novas intervenções em transmissão, a imunidade e o desenvolvimento de vacinas.
“O que há de mais novo sobre malária, pelo Plasmodium Vivax, está sendo mostrado aqui. Os pesquisadores mais renomados na área de malária estão apresentando novos tipos de tratamentos, as questões genéticas e interações do parasita com o hospedeiro. São todos dados que podem servir para direcionar o futuro do tratamento e novas vacinas”, ressaltou Monteiro.
A Amazônia é uma região endêmica para a malária e registra 99% dos casos do País, com incidência absurdamente alta no Amazonas. Em 2016 foram mais de oito mil casos e, em média, a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) diagnostica 20% dos casos de malária em Manaus atendendo 2,5 mil pacientes, por ano, ainda segundo Monteiro.
A malária é causada pelos parasitas transmitidos por mosquitos fêmeas, do gênero Anopheles. Entre os sintomas estão: febre, dor de cabeça e vômitos que, geralmente, aparecem de dez a 15 dias após a picada do mosquito. Caso não seja tratada de forma adequada, a doença pode se agravar e levar à morte. A vacina contra a malária não existe e a doença pode ser contraída mais de uma vez.
Fonte: Diário do Amazonas