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- Categoria: Saúde
- By Fábio Reis
Farmácia Viva do Distrito Federal completa 30 anos
Os medicamentos naturais, produzidos com plantas cultivadas no Riacho Fundo, já beneficiaram mais de 300 mil pacientes
Há exatos 30 anos, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal iniciava seu Projeto de Fitoterapia. A iniciativa antecedeu o que hoje se conhece como Farmácia Viva. O objetivo era integrar a fitoterapia como opção terapêutica aos programas existentes nas unidades de saúde. Desde então, mais de 300 mil pessoas já fizeram uso dos produtos, desenvolvidos com plantas cultivadas na própria unidade.
A Farmácia Viva funciona no meio do mato, no mesmo terreno do Instituto de Saúde Mental, no Riacho Fundo. Quem ali trabalha tem a grata missão de conviver com o canto dos pássaros e o cheirinho de diversas plantas – como a citronela e o capim cidreira, algumas das dezenas de espécies cultivadas na área. Ao todo, 13 profissionais atuam no local, sendo três farmacêuticos e dez técnicos de diversas áreas.
Atualmente, oito fitoterápicos são produzidos na unidade. A farmácia faz todo o processo: cultiva a planta medicinal, faz a colheita, a triagem, a secagem e, por fim, vai para o processo de extração no laboratório, onde são obtidos as tinturas e os extratos, podendo ser usados como produto acabado ou como matéria prima para produção de outros produtos.
Pelo menos 21 unidades de saúde retiram os fitoterápicos na Farmácia Viva e distribuem para a população, em suas farmácias, mediante receita prescrita por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e nutricionistas.
A Unidade Básica de Saúde 1, no Núcleo Bandeirante, foi a primeira a aderir ao projeto e, hoje, é uma das que mais distribui os fitoterápicos. Por mês, são 300 deles entregues a cerca de 200 pacientes. “O que tem a maior demanda é a tintura de funcho, bom para problemas estomacais”, destaca o gerente da unidade, João Luís Saviano Gomes.
Segundo Juliana Piccin Mônaco, uma das farmacêuticas da Farmácia Viva, a produção dos fitoterápicos é de pequena escala, por demanda. “É flutuável. Mas produzimos uma média de 400 frascos de xarope, semanalmente, por exemplo, e uns 250 potinhos de gel”, frisa.
Tipos de gel
Atualmente, a Farmácia Viva produz quatro tipos de gel: o de alecrim pimenta, usado como antisséptico e fungicida; o de babosa, para cicatrização; o de confrei, usado em hematomas e machucados em geral; e o de erva baleeira, que tem se mostrado muito eficaz como anti-inflamatório.
O boldo, o funcho e o guaco saem em forma de tintura. Os dois primeiros têm indicação para problemas estomacais. O último, carro-chefe da Farmácia Viva, é muito utilizado no combate a resfriados e sua produção também pode ser em forma de xarope, ideal para crianças por ter sabor adocicado.
“Estamos em fase adiantada para lançar um novo fitoterápico. Trata-se da droga vegetal rasurada (folha seca rasurada), obtida a partir da colônia (Alpinia zerumbet), destinada ao preparo de infuso, indicado como auxiliar no tratamento da ansiedade leve”, adianta o chefe do Núcleo da Farmácia Viva, Nilton Netto.
A planta já é cultivada e a embalagem está em fase de desenvolvimento. “Precisamos que a Anvisa publique a segunda edição do Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira, onde consolidamos as informações técnicas referentes ao fitoterápico no âmbito da Farmácia Viva. Com isso, podemos fazer o lançamento oficial”, explica Netto.
As plantas pioneiras
A Farmácia Viva começou com um Projeto de Fitoterapia, como parte do programa de desenvolvimento de terapias não convencionais no sistema de saúde, em 1989.
Para padronizar o primeiro elenco, foram escolhidas dez espécies vegetais: mentrasto, alho, babosa, capim santo, alecrim pimenta, camomila, espinheira santa, hortelã, guaco e boldo nacional.
Profissionais de saúde também foram capacitados em um curso de especialização e receberam a publicação Plantas & Saúde: Guia Introdutório à Fitoterapia.
À época, também foi criada a Oficina de Processamento Vegetal, cujo objetivo era transformar algumas espécies em drogas vegetais, prescritas pelos profissionais capacitados, para o preparo de infusos. Para esta atividade, foram escolhidas cinco das dez espécies padronizadas: guaco, espinheira santa, camomila, capim santo e boldo nacional.
Quase dez anos depois do início do Projeto de Fitoterapia, foi inaugurado o Laboratório de Manipulação de Medicamentos Fitoterápicos e, no ano 2000, começou a manipulação de fitoterápicos.
E é ali que trabalha, há 28 anos, Wagna Vieira da Silva. “Trabalho aqui desde que minha caçula tinha quatro meses de vida. Ela foi a que mais usou, principalmente, o guaco”, lembra ela, que usa os fitoterápicos para tratar os filhos, netos e bisnetos.
No começo da produção do laboratório, foram definidos os seguintes fitoterápicos: xarope de guaco, tinturas de camomila, de boldo nacional, de espinheira santa e de alecrim pimenta, gel de babosa e pomadas de mentrasto e de confrei.
Em 2005, porém, encerrou-se a produção de drogas vegetais para o preparo de infusos. Mas, durante o período das atividades, foram produzidas e dispensadas cerca de 85 mil unidades de 30g contendo droga vegetal.
Somente em 2010, o laboratório de medicamentos fitoterápicos virou a Farmácia Viva. E, três anos depois, foi criado, oficialmente, o Núcleo de Farmácia Viva, subordinado à Diretoria de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Saúde do Distrito Federal.
Por AGÊNCIA BRASÍLIA
Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília