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- Categoria: Saúde
- By fabio
Prós e contras do uso do Botox para fins estéticos
Nunca se discutiu tanto e tão abertamente os prós e contras do uso da toxina botulínica para fins estéticos, recurso utilizado hoje até por adolescentes
Visto como um verdadeiro elixir contra as rugas, o botox tem provocado tanto interesse quanto preocupação, sobretudo devido ao uso precoce. Recentemente, houve uma reação em cadeia de médicos e cientistas à exibição de um vídeo em que Charice Pempengco, 18 anos, atriz do seriado Glee, aparece fazendo uma aplicação da toxina. A justificativa?
— Uma refrescada no visual.
Cresceu o número de adolescentes em busca do milagre que paralisa músculos. Segundo os dados da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica, 12 mil doses do medicamento foram injetadas em americanos entre 13 e 19 anos, um número 2% maior do que em 2008. No Reino Unido, a classe médica divulgou um manifesto chamado Teen Toxing, lembrando aos adolescentes que a toxina não impede o envelhecimento natural. O cirurgião plástico Ruben Penteado, diretor do Centro de Medicina Integrada, alerta que o botox em adolescentes em casos apenas estéticos pode provocar a paralisia dos nervos faciais, além de interferir na mastigação, na fala e no sorriso.
O uso precoce da toxina botulínica não é o único exagero que permeia a relação das pessoas com os procedimentos antienvelhecimento. Para especialistas, o equilíbrio e o bom-senso devem prevalecer. Nessa luta contra a passagem do tempo, destacam-se também os tratamentos não cirúrgicos, que respondem por 85% dos 10 milhões de procedimentos realizados em 2009, segundo dados da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica. Entre eles, está a toxina botulínica. Para se ter uma ideia da procura, foram 2,5 milhões de aplicações em um ano
Como todo e qualquer movimento cultural, o apelo da juventude eterna ganhou uma contracorrente. O estilista Tom Ford fez seu protesto ao colocar dois idosos protagonizando beijos quentes em um editorial de moda da Vogue Paris, no último mês de dezembro.
— Estou cansado da rejeição cultural à velhice e do estigma relacionado a rugas e cabelos brancos. Para este ensaio, eu imaginei um homem e uma mulher que estão juntos há muito tempo, fiéis um ao outro e sempre incandescentes de desejo — disse à publicação.
Em outra revista badalada, a alemã Madame, quem estampou a capa foi Carmem Dell'Orifice, nascida em 1931 e uma das principais modelos da década de 1950. Hoje, com rugas e cabelos brancos e volumosos, fez bonito entre editoriais de meninas jovens e esqueléticas. São ambas iniciativas importantes, mesmo que pontuais, no mundo da moda.
Na mesma linha, uma série de atrizes também vem rejeitando a ideia de ter um rosto sem rugas e sem expressões.
Sophia Loren, 75, garante nunca ter se entregado ao botox.
— Eu não acredito em procedimentos porque, depois, todas parecem iguais — disse.
Outro ícone do cinema, a atriz Julia Roberts também torce o nariz para o rejuvenescimento:
— Eu quero que meus filhos saibam quando estou chateada, feliz e quando estou confusa. Seu rosto conta uma história e não pode ser a história da sua ida ao consultório médico — afirmou em recente entrevista.
No universo de críticas à estética do botox, poucos sabem que os preenchimentos surgem como os verdadeiros vilões de casos famosos de exagero, como o da estilista Donatella Versace — provável portadora de dismorfofobia, quadro psiquiátrico em que a pessoa tem uma autoimagem deturpada e, por isso, abusa dos procedimentos estéticos a fim de corrigir tais imperfeições.
— O rejuvenescimento é feito com uma série de procedimentos. Mas as pessoas teimam em associar o uso da toxina botulínica com esses deslizes estéticos que vemos na mídia. Na minha avaliação, os problemas maiores estão com os preenchimentos malfeitos — explica a dermatologista Bogdana Victória Kadunc. — As técnicas de rejuvenescimento são amplas, e o uso isolado da toxina pode ser bom para um grupo determinado de pacientes.
Em um grupo específico, em que predominam as rugas dinâmicas na face, provocadas pela musculatura da mímica (as expressões), os benefícios das aplicações da toxina botulínica são muitos. Em geral, os efeitos duram de quatro a cinco meses. Ou seja: se a paciente não ficou satisfeita com os resultados, pode simplesmente não repetir as aplicações. Já no caso dos preenchimentos, o uso é muito mais perigoso.
— Boa parte dos preenchedores usados são definitivos. Logo, se o resultado não for bom, o paciente não terá alternativas. Porém, já existem no mercado preenchedores de longa duração, que são mais seguros e não são definitivos — indica a médica.
Para o doutor em cirurgia plástica Maurício de Maio, o botox, além de eliminar a ruga, pode desacelerar o processo de envelhecimento.
— Existe uma pressão violenta para você ser sempre jovem. Tanto no meio afetivo quanto no profissional. Se você aparece em uma entrevista de emprego com rugas ou bolsa sob os olhos, vai parecer uma pessoa cansada, sem energia. Por isso, essa preocupação em se contemporizar. E o melhor é que, diferentemente da cirurgia plástica, o botox é acessível — justifica o cirurgião.
O paciente ideal
Os homens também são adeptos das aplicações de botox. E pasmem: para a classe médica, eles são os pacientes ideais.
— Os homens vêm aqui com muita objetividade, sem insegurança. Querem uma melhora tênue, de 60%. Enquanto as mulheres querem uma melhora de 110%. Claro que a cobrança para um homem não ter rugas é bem menor. Então, é mais fácil conseguir um bom resultado com o sexo masculino, uma vez que o uso é mais contido — afirma o cirurgião plástico Maurício de Maio.
Excesso condenado
Afinal, a sociedade aprova o visual esticado tão procurado pelas mulheres que ultrapassam a casa dos 40? Ou seria um rosto marcado pelo tempo mais benquisto pelo senso comum? Para a presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Bogdana Victória Kadunc, o rejuvenescimento que deforma a fisionomia original da pessoa é totalmente condenado pela sociedade.
— Esse excesso está em queda, pois todos já perceberam que ele causa muito mais pavor do que atração. Esses abusos são antiestéticos. Porque tudo que vai contra a natureza é feio. Ter 70 anos e querer parecer uma mulher de 40 não fica natural, nem com o melhor dos especialistas — pondera.
Para o teatrólogo André Amaro, a cultura antienvelhecimento ganhou o botox como um remédio paliativo, que disfarça, mas não resolve os problemas que a pessoa tem de enfrentar com a proximidade da velhice.
— Ninguém rejuvenesce com botox. Acho até que fica todo mundo tão igual, que você não sabe dizer se a pessoa tem 50 ou 80 anos. A juventude que vem de dentro, que emana da pessoa, é a que faz diferença. Só assim ela não passa essa impressão do velho, do antigo. Acho que o botox enrijece até a alma. Essa necessidade de se encaixar no padrão ideal para ser aceito é uma bobagem. Fico espantado com a ousadia, ou a ingenuidade, que muitas atrizes têm ao achar que a cara esticada vai passar despercebida, vai parecer natural — provoca.
O exemplo popular de exagero é a cultuada atriz Nicole Kidman, 43 anos, citada espontaneamente por quase todos os entrevistados desta reportagem como um exemplo ruim do uso de procedimentos estéticos rejuvenescedores. A beleza que a tornou musa anos atrás, hoje virou motivo de chacota - na internet, seu apelido virou mulher-morcego. Nicole, que admitiu o uso da toxina botulínica e de outros tratamentos, afirmou para uma publicação alemã não ter gostado dos resultados.
— Não acho o rosto de uma atriz com rugas menos bonito do que o de outra atriz cheia de tratamentos de beleza. Pelo contrário. Acho que o natural é sempre mais desejável — diz a psicóloga Rachel Moreno.
Na contramão, celebridades belas que fizeram o bom uso da toxina botulínica não têm do que reclamar. Sharon Stone é adepta confessa do botox — mas com moderação —, e continua bonita e com poucas rugas. Assim como Maitê Proença, que já admitiu ter feito algumas aplicações.
— Eu amo minhas rugas. Elas me trazem dignidade. Mostram a mulher que eu sou, a minha história. Nunca fiz plástica. Só umas coisinhas leves, mas já saiu tudo — garante Maitê.
A explicação para celebridades que passaram pelo mesmo procedimento estético terem resultados tão diferentes é simples.
— O botox, se bem usado, pode trazer resultados incríveis. Mas aí eu pergunto: todo arquiteto tem bom gosto? Nem sempre. Da mesma forma, nem todos os médicos autorizados a lidar com esses procedimentos têm bom gosto para deixar a aparência do paciente harmônica — alerta o cirurgião plástico Maurício de Maio, doutor pela Universidade de São Paulo e consultor internacional sobre toxina botulínica.
Segundo ele, o botox necessita de uma dosagem muito precisa, pequena e específica, além de um profundo conhecimento da musculatura do rosto. A dermatologista Bogdana Victória Kadunc vai além:
— Muitas vezes, essa falta de limite parte do paciente. Bato sempre na tecla do bom senso. Por parte do médico e do paciente.
Existem indícios de que o tratamento pode causar dependência. Estudos apresentados pela Associação de Cirurgiões Plásticos de Estética, na Grã-Bretanha, concluíram que 40% dos pacientes que usaram o botox para fins estéticos apresentaram comportamento compulsivo para repetir o tratamento. Outra pesquisa, da London Plastic Surgery Associates e da Enfermaria Real de Derbyshire, apontou resultados idênticos: 40% dos pacientes pesquisados disseram ter vontade compulsiva de repetir as aplicações da toxina, e 50% afirmaram que não apenas aparentam estar mais jovens com o botox, como também se sentem mais jovens.
Fonte: Zero Hora - Portal ClicRBS
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