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- By Fábio Reis
CFF, CRF-RS e Afargs lançam diretriz emergencial sobre profilaxia de infecção por leptospirose
Publicação "Orientações emergenciais - Leptospirose: uso racional de doxiciclina em contexto de escassez" já está disponível no site do Conselho Federal de Farmácia (CFF). (imagem: Comunicação CFF)
Diante das severas enchentes que assolam o estado do Rio Grande do Sul, o Conselho Federal de Farmácia (CFF), o Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul (CRF/RS) e a Associação dos Farmacêuticos do Rio Grande do Sul (AFARGS) juntas publicaram um material completo com referências sobre a profilaxia da Leptospirose.
O documento intitulado "Orientações Emergenciais - Leptospirose: Uso Racional de Doxiciclina em Contexto de Escassez", foi elaborado por farmacêuticos voluntários, com o intuito de atender às demandas emergenciais geradas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Estas diretrizes estão sujeitas a atualizações conforme a evolução da situação. É importante consultar e verificar a atualização deste e de outros protocolos afins no endereço https://site.cff.org.br/publicacoes
- Clique aqui para conferir a publicação
Confira abaixo a reprodução acessível em texto do documento. Recomendamos que você acesse diretamente a página do CFF para verificar as atualizações do mesmo.
ORIENTAÇÕES EMERGENCIAIS
Leptospirose: uso racional de doxiciclina em contexto de escassez
VERSÃO 0.0 - 13/5/2024
Este é um “documento vivo”, foi elaborado por farmacêuticos voluntários para atender a situação emergencial de resposta as enchentes no Rio Grande do Sul e poderá ser atualizado, conforme a necessidade. Sugere-se verificar a atualização deste e de outros protocolos afins no endereço https://site.cff.org.br/publicacoes
ORIENTAÇÕES GERAIS |
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Qual o objetivo? |
Fornecer orientações acerca do uso racional da doxiciclina, nas áreas atingidas por enchentes, em razão do risco de aumento na incidência de leptospirose e a escassez deste antimicrobiano |
Como começar? |
Confira o estoque de doxiciclina disponível e estime a demanda esperada |
Quais as tarefas? |
• Manter estoques para o tratamento de pessoas sintomáticas, considerando: » 14 comprimidos por tratamento » Incidência de leptospirose em enchentes (100 casos/100.000 habi- tantes), a partir da terceira semana do início da enchente
• Manter critérios rígidos de dispensação |
Como avaliar esta etapa? |
• Estoque de doxiciclina reservado para pessoas sintomáticas • Protocolos rígidos de dispensação |
A leptospirose é uma doença infecciosa aguda causada pela bactéria Leptospira, que afeta humanos e uma variedade de animais. A transmissão ocorre principalmente através do contato direto ou indireto com a urina de ani- mais infectados, especialmente roedores, que são os principais reservatórios urbanos da doença. Ambientes aquáticos contaminados com a bactéria representam um risco significativo para a transmissão da leptospirose, especialmente em cenários de chuvas intensas e enchentes.
A fase aguda da leptospirose geralmente se inicia de forma abrupta, de 2 a 30 dias após a exposição à bactéria, com um período de incubação médio de 10 dias. Os sintomas iniciais são frequentemente inespecíficos, o que pode dificultar o diagnóstico precoce. Segundo o Ministério da Saúde, um caso suspeito é caracterizado por indivíduo que apresenta febre e mialgia, especialmente na região lombar e panturrilha, e que teve contato com água ou lama da inun- dação no período de até 30 dias anteriores ao início dos sinais e sintomas.
Após aproximadamente uma semana, a doença pode progredir para a fase tardia, também conhecida como fase imune, quando os anticorpos começam a ser produzidos. Esta fase é marcada pela presença de anticorpos contra a Leptospira e pela eliminação da bactéria do sangue, que ainda pode estar presente nos rins e no trato urinário, levando à excreção urinária da bactéria.
Desta forma, é essencial fazer a correta anamnese e tratamento dos casos para impedir a sua história natural.
A doxiciclina é o tratamento de primeira escolha na fase aguda da doença, sendo amoxicilina o de segunda esco- lha. O tratamento recomendado com doxiciclina é de 200 mg por dia, durante 5 a sete dias.
O uso da doxiciclina como profilaxia contra leptospirose foi testado em estudos randomizados, onde os resultados de seu benefício sobre placebo ou outros antibióticos é mínimo ou incerto.
A dificuldade logística imposta pela catástrofe que se abate sobre o Rio Grande do Sul torna urgente o adequado gerenciamento dos estoques, para que se obtenha o maior benefício possível para a população. Nesse momento, a prioridade é o uso racional e efetivo deste medicamento, precedido de uma triagem rigorosa.
Estudos realizados em enchentes na Índia, Fiji e na Malásia demonstram uma explosão de casos sintomáticos da doença a partir da segunda semana de enchente, com incidência que pode ultrapassar os 100 casos para cada 100.000 habitantes. Então, deve ser priorizada a reserva dos estoques para atender a esta provável demanda futura. Por isso, recomendamos:
Reservar tratamento de doxiciclina 100mg para pessoas sintomáticas
CÁLCULO: (14 COMPRIMIDOS x NÚMERO DE HABITANTES x 0,001)
Manter critérios rígidos de dispensação
CRITÉRIO |
DISPENSAÇÃO |
Pessoas sintomáticas |
Prioritário |
Profilaxia de equipes e pessoas imersas em água por longos períodos |
Viável em situação de pleno abastecimento |
Profilaxia de demais pessoas |
Não recomendado |
REFERÊNCIAS
1. BRASIL. Nota Técnica nº 26/2024-CGZV/DEDT/SVSA/MS. Reforça estratégias de suspeição da leptospirose, diag- nóstico e tratamento oportunos e esclarece sobre a quimioprofilaxia, em cenários de desastres climáticos. Bra- sília. Diário Oficial da União. 2024
2. IFEJUBE, Oluwafemi John; et al. Analysing the Outbreaks of Leptospirosis After Floods in Kerala, India. Research Sqare (Preprint) Novembro 2023. DOI: 10.21203/rs.3.rs-3673273/v1.
3. MOHD RADI, M. F.; HASHIM, J. H.; JAAFAR, M. H.; HOD, R.; AHMAD, N.; MOHAMMED NAWI, A.; BALOCH, G. M.; IS- MAIL, R.; FARAKHIN AYUB, N. I. Leptospirosis Outbreak After the 2014 Major Flooding Event in Kelantan, Malaysia: A Spatial-Temporal Analysis. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 98, n. 5, p. 1281-1295, maio 2018. DOI: 10.4269/ajtmh.16-0922.
4. TOGAMI, E.; KAMA, M.; GOARANT, C.; CRAIG, S. B.; LAU, C.; RITTER, J. M.; IMRIE, A.; KO, A. I.; NILLES, E. J. A Large Leptospirosis Outbreak following Successive Severe Floods in Fiji, 2012. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 99, n. 4, p. 849-851, outubro 2018. DOI: 10.4269/ajtmh.18-0335.
5. WIN, T. Z.; PERINPANATHAN, T.; MUKADI, P.; SMITH, C.; EDWARDS, T.; HAN, S. M.; MAUNG, H. T.; BRETT-MAJOR, D. M.; LEE, N. Antibiotic prophylaxis for leptospirosis. Cochrane Database of Systematic Reviews, 2024, Edição 3, Art. No.: CD014959. DOI: 10.1002/14651858.CD014959.pub2.