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- Categoria: Comunicados e Informes do Setor Farmacêutico
- By Fábio Reis
Riscos de leishmaniose por transfusão de sangue
Pesquisadores da UFTM destacam risco de transmissão transfusional da leishmaniose visceral e reforçam importância da prevenção.
Pesquisadores da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) publicaram, na revista científica Transfusion, da Associação Americana de Bancos de Sangue (AABB), um artigo científico que destaca o risco de transmissão transfusional da leishmaniose visceral. O trabalho, intitulado "Leukoreduction as a control measure in transfusion transmission of visceral leishmaniasis", reforça o papel da metodologia de leucorredução.
No artigo, foi estudada a eficácia dos filtros de leucorredução em aumentar a segurança transfusional. A leucorredução, procedimento realizado para reduzir o número de leucócitos de um hemocomponente, tem sido amplamente comprovada na prevenção de reações agudas adversas às transfusões de hemocomponentes, bem como na eliminação de protozoários – como o Trypanosoma cruzi e a Leishmania – e de alguns vírus de componentes celulares do sangue, como o citomegalovírus e o HTLV (vírus linfotrópico de células T humanas).
Os filtros de leucorredução têm demonstrado, experimentalmente, alta eficácia na eliminação de parasitas dos hemocomponentes celulares, sendo esse procedimento uma alternativa para minimizar o risco de transmissão transfusional também para a leishmaniose visceral.
Fomento a pesquisas
A Anvisa, em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, tem promovido estratégias de fomento a projetos de pesquisas junto ao grupo da UFTM, com a colaboração da Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia de Minas Gerais (Hemominas) e com o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) e o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Piauí (Hemopi). O fomento a pesquisas nessa área é de fundamental importância, uma vez que a leishmaniose visceral é ainda pouco estudada, principalmente no campo da transfusão de sangue, e que tem relevância para a regulação do tema no Brasil.
Vale destacar também o artigo “Socio-epidemiological characterisation of blood donors with asymptomatic Leishmania infantum infection from three Brazilian endemic regions and analysis of the transfusional transmission risk of visceral leishmaniasis”, publicado em 2018 sob a coordenação de pesquisadores da UFTM e financiado via projeto Anvisa/CNPq. Os resultados, publicados na revista Transfusion Medicine, da Sociedade Britânica de Transfusão de Sangue, confirmaram a alta prevalência de soropositividade para L. infantum (agente causador da leishmaniose visceral no Brasil) entre doadores de sangue nas três regiões pesquisadas (Minas Gerais, Ceará e Piauí). Também foi detectada a soroconversão (produção de anticorpos pelo organismo em resposta a um antígeno) em dois de seis pacientes transfundidos, o que sugere a forte possibilidade de transmissão de L. infantum pela transfusão.
Em outro projeto (Prevalência da infecção por L. L. chagasi em pacientes politransfundidos e controles de regiões endêmicas para leishmaniose visceral: possível correlação com transfusões de hemocomponentes celulares), financiado por meio da parceria Anvisa/CNPq, os pesquisadores observaram prevalência significativamente maior em pacientes que receberam hemocomponentes não leucorreduzidos. Isso reforça, portanto, as evidências da transmissão transfusional da leishmaniose visceral e os achados experimentais de que os filtros de leucorredução são eficientes em seu controle.
Parceria Anvisa e CNPq
A parceria da Anvisa com o CNPq, agência governamental responsável por fomentar a pesquisa científica e tecnológica no Brasil, vem demonstrando resultados essenciais para a regulação e a pesquisa científica, com foco na avaliação de riscos e benefícios de produtos e serviços relacionados à saúde da população, incluindo projetos em parceria com instituições de pesquisas nacionais e internacionais. Esses projetos visam a melhoria da qualidade e da segurança de produtos e serviços relacionados à saúde no país. Além disso, eles incentivam o desenvolvimento de novas pesquisas e tecnologias.
Leishmaniose visceral: saiba mais
A leishmaniose visceral é uma protozoose causada por protozoários do gênero Leishmania, encontrados na Europa, na Ásia, na África e na América. Estamos falando de uma doença tropical negligenciada, cujos sintomas são febre intermitente que dura semanas, fraqueza, perda de apetite, perda de peso, anemia e hepatoesplenomegalia (aumento anormal do fígado e do baço), que se manifestam entre dois e oito meses após a infecção.
Uma curiosidade: cerca de 85% das pessoas infectadas pela leishmaniose visceral são assintomáticas. Esses indivíduos aparentemente saudáveis podem abrigar o parasita por décadas, atuando como possível reservatório e contribuindo para sua transmissão não vetorial por meio de transplante de órgãos, acidentes laboratoriais, uso de drogas injetáveis ou transfusão de sangue.
No Brasil, a leishmaniose visceral está presente nas cinco grandes regiões do país, com alta prevalência no Nordeste, no Sudeste e no Centro-Oeste.
Referências:
1. Pereira LQ, Tanaka SCSV, Ferreira-Silva MM, et al. Leukoreduction as a control measure in transfusion transmission of visceral leishmaniasis. Transfusion. 2023 Mar 17. doi: 10.1111/trf.17308. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36929836/ 31/03/23
2. Ferreira-Silva MM, Teixeira LAS, Tibúrcio MS et al. Socio-epidemiological characterisation of blood donors with asymptomatic Leishmania infantum infection from three Brazilian endemic regions and analysis of the transfusional transmission risk of visceral leishmaniasis. Transfus Med. 2018 Dec 28(6):433-439. doi: 10.1111/tme.12553. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30144203/ 31/03/23