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- Categoria: Carreira Farmacêutica
- By Fábio Reis
Presença do farmacêutico clínico aumenta adesão ao tratamento da AIDS
A presença de um farmacêutico clínico na equipe multiprofissional que trata pacientes diagnosticados com HIV/AIDS foi responsável por aumentar de 16% para 57% a adesão dessas pessoas ao tratamento, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
Outra resposta positiva a essa ação foi o aumento significativo dos linfócitos T CD4+ e consequentemente o percentual de pessoas com carga viral indetectável, de 21% para 52%. A função desse farmacêutico clínico foi especificamente de atender pacientes com problemas de adesão e aqueles que iniciaram a terapia antirretroviral, ou seja, aqueles com diagnóstico recente.
É o que revela a farmacêutica Lilian Pereira Primo, em trabalho desenvolvido para o Programa de Mestrado Profissional em Gestão de Organizações de Saúde, oferecido em parceria entre a FMRP e a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP) da USP.
O trabalho de acompanhamento dos pacientes com má adesão à Terapia Antirretroviral começou em 2012 e perdurou por doze meses com o intuito de avaliar o impacto da inserção do farmacêutico clínico na equipe multidisciplinar na Unidade Especial de Tratamento de Doenças Infecciosas (UETDI).
A farmacêutica afirma que o paciente sempre teve orientações quanto à doença e o tratamento. Entretanto, devido às inúmeras atividades dos profissionais envolvidos, eles não conseguiam se dedicar exclusivamente ao atendimento do paciente voltado para a adesão. Com o farmacêutico clínico, as orientações da equipe ao paciente continuam, mas com o diferencial da presença do farmacêutico clínico, que se dedica exclusivamente a orientar esse paciente. "Cada consulta individualizada, paciente e farmacêutico clínico, demora entre 20 minutos e 1 hora, dependendo da necessidade apresentada pelo paciente. Acreditamos que esta tenha sido a diferença quando avaliamos o impacto do atendimento do farmacêutico clínico na adesão".
Ainda, segundo a farmacêutica, as dificuldades do paciente em aderir ao tratamento eram as mais diversas. "Desde a insatisfação por terem que usar o medicamento continuamente, passando pela 'não aceitação' da condição de infectado pelo HIV, até o uso de álcool".
Mensagens de texto ou MSN
Para reverter esse quadro, as ações do farmacêutico foram especialmente a de orientar sobre a forma de tomar os medicamentos, os efeitos colaterais e o envio de mensagem de texto, torpedo ou MSN, para lembrar esses pacientes sobre o dia de sua consulta e para a retirada dos medicamentos. "Após os 12 meses de seguimento, entre os 63 pacientes que já estavam em tratamento, a taxa de adesão pulou de 16% para 57%, e o número de pessoas com carga viral indetectável, que é o melhor indicador de controle de infecção, passou de 21% para 52%", comemora Lilian.
Já entre aqueles que iniciavam o tratamento com antirretrovirais, 69% tiveram boa adesão e 91%, queda significativa da carga viral. "O maior desafio nesse grupo, diz a pesquisadora, é fazê-los aceitar a doença e reconhecerem a necessidade do tratamento", afirma.
Para a definição de boa adesão, a pesquisadora, avaliou o percentual de retirada de medicamentos antirretrovirais na farmácia. "Boa adesão foi considerada para o paciente que retirou pelo menos 10 das 12 prescrições feitas pelo médico. Esse parâmetro é do Ministério da Saúde e obtivemos a informação a partir do Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM) para pessoa com HIV/AIDS, na farmácia da UETDI", diz Lilian.
A pesquisadora conclui que a intervenção farmacêutica influenciou decisivamente na adesão e consequentemente na supressão da carga viral e aumento da CD4+ dos pacientes estudados. "O controle da doença tem significado menos internações e uma vida saudável e produtiva para estes pacientes".
O título do trabalho desenvolvido por Lilian é Gestão do Cuidado em HIV/AIDS: resultados do impacto da atuação do farmacêutico clínico na adesão à terapia antirretroviral. Foi orientado pelo professor Valdes Roberto Bollela e ficou com o primeiro lugar na décima quarta Mostra Nacional de Experiências Bem-Sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças (14º Expoepi), na área de Vigilância, Prevenção e Controle das DSTs, HIV/AIDS e hepatites virais.
Artigo por Rosemeire Soares Talamone, de Ribeirão Preto - USP Notícias