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- Categoria: Saúde
- By Butantan
Esclareça 14 dúvidas sobre sintomas, causas e como tratar a febre maculosa
Febre Maculosa, doença causada por picada de carrapato, pode matar 60% dos infectados se não tratada no início dos sintomas.
O surto de febre maculosa que ocorre em São Paulo causa dúvidas se a doença, de fato, é um perigo para moradores do estado e do resto do Brasil. Por isso, o Portal do Butantan selecionou as perguntas mais comuns sobre a doença, respondidas pelo infectologista e diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, e pela médica veterinária e professora da Universidade Anhembi Morumbi, Fernanda Nieri Bastos.
Tire suas dúvidas abaixo sobre o que é a doença, como ocorre a transmissão, formas de prevenção e tratamento.
1. O que é a febre maculosa?
A febre maculosa é uma doença transmitida pela picada do carrapato infectado com a bactéria do gênero Rickettsia. A transmissão ocorre quando o artrópode permanece aderido à pele do hospedeiro sugando seu sangue. No Brasil, há duas espécies de riquétsias: a Rickettsia rickettsii, considerada a mais letal, registrada em estados do Sudeste e no norte do Paraná, que causa doença grave; e a Rickettsia parkeri registrada em ambientes de Mata Atlântica no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia e Ceará, responsável por sintomas mais leves e moderados.
2. Qualquer carrapato causa febre maculosa?
Não. Somente os carrapatos do gênero Amblyomma, como Amblyomma sculptum, conhecido como carrapato-estrela, Amblyomma aureolatum e Amblyomma ovale transmitem a bactéria causadora da febre maculosa. Vale ressaltar que somente o micuim do Amblyomma sculptum pica o humano - adultos dessa espécie não o fazem. Já entre os carrapatos Amblyomma aureolatum e Amblyomma ovale são os carrapatos adultos que picam os humanos, não o micuim. A taxa de infecção de carrapatos pela bactéria é 0,5% a 1% quando a transmissão é relacionada ao Amblyomma sculptum. Por isso, a transmissão não é considerada comum.
3. Como ocorre a transmissão da febre maculosa?
Os carrapatos que vivem no Sudeste e Sul podem já nascer infectados com riquétsias ou serem infectados ainda na fase de larva ou ninfa, perpetuando a doença ao longo do seu ciclo de vida. Se durante este período um carrapato infectado picar a pele humana, transmitirá a bactéria através da saliva. Os carrapatos imaturos, conhecidos como micuins, são os responsáveis pela maioria dos casos de transmissão da febre maculosa em humanos. Isso ocorre porque, por serem muito pequenos, às vezes não são percebidos na pele e permanecem sugando sangue humano por horas ou dias, tempo suficiente para a bactéria atingir a corrente sanguínea e ocorrer a transmissão.
4. Há áreas endêmicas ou com mais risco de contrair carrapato que causa a febre maculosa?
O carrapato Amblyomma sculptum ocorre em áreas rurais e de pasto, com pouca umidade, na sua maioria no interior de São Paulo, sobretudo nas regiões de Campinas e Piracicaba, e nos demais estados do Sudeste. Ele tende a parasitar cavalos, capivaras e antas. Já os carrapatos Amblyomma aureolatum e Amblyomma ovale são encontrados em área de mata e parasitam na fase adulta canídeos (inclusive o cão doméstico), pequenos roedores e pássaros na região metropolitana de São Paulo, nos demais estados do Sudeste e em algumas regiões de estados do Sul.
5. O carrapato que causa a febre maculosa pica ou morde?
O carrapato usa seu aparelho bucal para picar e se alimentar do sangue do hospedeiro. Primariamente, esse hospedeiro tende a ser cavalos ou capivaras, mas o artrópode também pode atacar humanos.
6. Quando começam a aparecer os sintomas da febre maculosa?
O período de incubação da doença, ou seja, período da infecção até a manifestação dos primeiros sintomas, é de 2 a 14 dias, mas pode variar de acordo com cada pessoa.
7. Quais são os principais sintomas da febre maculosa?
Os sintomas iniciais da febre maculosa são:
- Febre
- Dor de cabeça intensa
- Náuseas e vômitos
Após alguns dias ocorrem:
- Pintas vermelhas na pele
- Diarreia e dor abdominal
- Dor muscular
- Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e solas dos pés
- Gangrena nos dedos e orelhas
- Paralisia dos membros (inicia nas pernas e chega aos pulmões causando parada respiratória)
8. Por que a febre maculosa ainda mata?
A bactéria Rickettsia rickettsii é muito patogênica para o homem, e sua letalidade pode ultrapassar 60% se a pessoa não for tratada logo no começo. Porém, como os sintomas iniciais são inespecíficos, a doença acaba confundida com várias outras, o que aumenta o risco de um diagnóstico equivocado. Além disso, na hora da conversa com o médico, muitas pessoas esquecem de relatar que estiveram recentemente em áreas de mata, o que dificulta o diagnóstico. Neste interim, a bactéria tem tempo de ir colonizando o organismo e a febre maculosa avança. É comum iniciar o tratamento somente quando começa o quadro típico, mas geralmente o paciente já não consegue responder muito bem e acaba indo a óbito.
9. Tem como prevenir a febre maculosa?
Sim, com uma série de medidas:
- Evite andar por áreas de vegetação alta
- Evite áreas endêmicas (algumas têm placas de alerta)
- Use calças, botas e mangas compridas para cobrir a pele ao andar pela mata
- Use roupas claras e faça checagem nelas após ida na mata
- Não retire o carrapato com a unha ou o esmague
- Use luva, papel ou pinça tira carrapato para retirar o bicho
- Na falta de equipamento, torça o corpo do carrapato com os dedos e puxe
10. Há repelente contra o carrapato que transmite a febre maculosa?
Não temos repelentes específicos para uso humano.
11. Tem como prevenir a contaminação em animais como cachorros e capivaras?
Recomenda-se o uso de coleiras carrapaticidas para cachorros e nos cavalos a utilização de ectoparasiticidas, seja em forma de banhos terapêuticos ou via oral. No entanto, em relação aos animais silvestres, como as capivaras, uma interferência direta na prevenção não é praticável, o que aumenta o risco de transmissão de doenças.
12. Tem tratamento com febre maculosa?
Sim. O tratamento é feito com os antibióticos tetraciclina e cloranfenicol e medidas para controle de sintomas.
13. Há vacina contra a febre maculosa?
Não há vacina veterinária nem para humanos.
14. Por que não há vacina contra a febre maculosa?
Nos anos 30, o cientista José Lemos Monteiro começou uma pesquisa no Instituto Butantan em busca de uma vacina contra a febre maculosa, mas acabou morrendo após ser contaminado acidentalmente com a bactéria do carrapato durante o estudo. O técnico de laboratório Edison Dias, que trabalhava com o cientista, também se contaminou e morreu. Desde então, foram descobertos antibióticos capazes de deter o avanço da bactéria, o que diminuiu a necessidade de desenvolvimento de uma vacina. Mas para que o tratamento inicie na época certa, é imprescindível informar, durante o atendimento no serviço de saúde, se a pessoa esteve recentemente em áreas de mata.
Reportagem: Camila Neumam
Fonte: Instituto Butantan