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- Categoria: Saúde
- By Fábio Reis
Vacinas contra HPV e Hepatite B podem prevenir o câncer
Disponíveis gratuitamente na rede pública de saúde, as vacinas contra HPV e Hepatite B evitam o desenvolvimento de tumores nas regiões do colo do útero, ânus, orofaringe e fígado
Cerca de 700 mil novos casos de câncer são esperados no Brasil apenas em 2023. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), serão mais de 45 mil nas regiões do cólon e reto, 17 mil no colo do útero e 15 mil diagnósticos na cavidade oral. Fato é que esses números poderiam ser bem menores se os brasileiros estivessem em dia com as vacinas contra o papiloma vírus humano (HPV) e a hepatite B, uma vez que os imunizantes ajudam a combater o desenvolvimento de cânceres provocados por esses dois patógenos.
“Estamos falando de uma doença que pode ter diferentes origens, como os vírus. Se um indivíduo não foi devidamente imunizado contra a hepatite B durante a infância e acabou infectado, o vírus fica alojado nas células do fígado. Em algum momento, o genoma – que ‘guarda’ as informações virais – pode estimular que essas células se tornem tumorais, desencadeando um câncer no órgão”, explica a pesquisadora científica do Laboratório de Biotecnologia Viral Soraia Attie Calil Jorge.
Já o HPV, transmitido durante a prática sexual, pode adentrar as células da região com a qual o vírus teve contato. “Em um primeiro momento, podem surgir verrugas e machucados que, a longo prazo, têm potencial para evoluírem para um câncer”, completa. Além do câncer de colo de útero, o terceiro mais comum entre as brasileiras, a doença atinge outras áreas do corpo, causando também câncer oral, peniano e anal.
No Brasil, estima-se que mais de 9 milhões de pessoas estejam infectadas pelo HPV e 700 mil novos casos surjam todos os anos – os dados são do Ministério da Saúde. Entre os anos de 2000 a 2021, quase 265 mil novos casos de hepatite B foram notificados à pasta.
Vacinas são aplicadas durante a infância
O Plano Nacional de Imunizações (PNI), considerado referência internacional, prevê que a primeira dose da vacina contra a hepatite B seja administrada ainda na maternidade, nas primeiras 12 horas de vida do recém-nascido. O esquema é constituído por três doses, aplicadas com intervalos de 30 dias entre a primeira e a segunda, e 180 dias entre a primeira e a terceira.
Incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2013, a vacina contra o HPV é recomendada para meninos e meninas entre 9 e 14 anos de idade, independentemente do sexo. São aplicadas duas doses do imunizante, com um intervalo de seis meses entre elas. No ano passado, o Ministério da Saúde ampliou o público-alvo da campanha e incluiu meninos de 9 e 10 anos. Distribuída pelo Instituto Butantan, a vacina quadrivalente protege dos tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV, responsáveis por 70% dos cânceres de colo de útero e a maioria dos outros tipos associados ao papiloma vírus.
Infelizmente, a cobertura vacinal contra ambas doenças se encontra abaixo do esperado. O percentual de crianças menores de 1 ano vacinadas contra a hepatite B, por exemplo, é um dos menores da história. Em 2021, apenas 76% dos bebês foram imunizados. Dados preliminares do ano passado indicam nova queda, com um índice de 75,2% – a meta preconizada pelo Ministério da Saúde é de 95%. Já a cobertura da vacina contra o HPV nas meninas, em 2022, alcançou 77,37% na primeira dose e 58,29% na segunda. Entre os meninos, 56,76% receberam a primeira dose e apenas 38,39% a segunda. A meta é vacinar 80% da população elegível.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, já afirmou que o câncer cervical pode ser o primeiro a ser eliminado no mundo. Mas isso só será possível se 90% das meninas e das jovens de todo o mundo forem vacinadas, se 70% das mulheres fizerem exames periodicamente e se 90% das mulheres com alguma doença cervical receberem tratamento – tarefas que têm se apresentado árduas até o momento. Por se tratar de uma infecção transmitida sexualmente, inúmeros tabus comprometem o aceite à vacinação.
Imunizante terapêutico
Estima-se que entre 25% e 50% da população feminina e 50% da população masculina mundial esteja infectada pelo HPV. Por isso, além da vacina profilática, que impede a infecção primária pelo vírus, o Instituto Butantan tem trabalhado no desenvolvimento de uma vacina terapêutica, capaz de “bloquear” o início do câncer no organismo.
“Sabemos que as células têm um controle, uma autorregulação. Elas sabem exatamente quando precisam se replicar ou fornecer um determinado hormônio, por exemplo. Problemas acontecem quando surgem defeitos, como os provocados pelo vírus HPV, fazendo essas células se replicarem indefinidamente e sem as regulações corretas, formando assim um tumor”, detalha Soraia Jorge.
O objetivo do trabalho encabeçado pela pesquisadora no Laboratório de Biotecnologia Viral é bloquear a expressão da chamada proteína E6, que funciona como um “gatilho” e dá início ao processo de desregulação das células, levando ao câncer. “É um projeto que está nas etapas iniciais, mas tem se mostrado bastante promissor.”
Reportagem: Natasha Pinelli
Fonte: Instituto Butantan