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- Categoria: Saúde
- By TelessaúdeRS-UFRGS
Quais são as indicações da vacina contra o vírus da hepatite A em situações de enchentes e inundações?
Na atual situação de enchentes e inundações no Rio Grande do Sul (RS), há indicação de vacinação contra o vírus da hepatite A (VAH), se estiver disponível, em grupos prioritários suscetíveis, conforme o Quadro 1 [1], não havendo a necessidade de avaliação prévia pelo Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) [2,3]. Pessoas suscetíveis são aquelas sorologicamente não reagentes para o anti-HAV IgG. A imunidade (anti-HAV IgG reagente) pode ser adquirida por infecção prévia, resolvida naturalmente, ou por vacinação [4]. No caso de indisponibilidade do registro vacinal, os grupos prioritários devem ser considerados não vacinados para o VAH [5]. Nos abrigos, as equipes de voluntários devem avaliar se existem fluxos municipais com orientações sobre a vacinação disponíveis.
Quadro 1 – Grupos prioritários para vacinação contra o VAH, se disponível, na atual situação de enchentes e inundações no RS
– População a partir de 1 ano de idade dos grupos de risco (Quadro 2), sem registro da vacina contra o VAH ou sem a carteira de vacinação. |
– Gestantes abrigadas ou desalojadas. |
– Pessoas de 18 a 40 anos abrigadas ou desalojadas, sem registro da vacina contra o VAH ou sem a carteira de vacinação. |
– Socorristas (profissionais e voluntários). |
– Bloqueio pós-exposição de caso de hepatite A em abrigos. |
Fonte: TelessaúdeRS (2024), adaptado de Sociedade Brasileira de Infectologia, Sociedade Gaúcha de Infectologia, Sociedade Brasileira de Imunizações (2024) e Sociedade Brasileira de Infectologia, Sociedade Gaúcha de Infectologia, Sociedade Brasileira de Imunizações, Sociedade Brasileira de Pediatria, Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Associação Brasileira de Medicina de Emergência (2024) [1,5].
As condições com indicação de vacinação contra o VAH estão descritas no Quadro 2.
Quadro 2 – Condições que indicam a vacinação contra o vírus da hepatite A*
– Hepatopatias crônicas de qualquer etiologia, inclusive portadores do vírus da hepatite C (VHC). |
– Portadores crônicos do VHB. |
– Coagulopatias. |
– Pessoas vivendo com HIV/aids. |
– Imunodepressão terapêutica ou por doença imunodepressora. |
– Doenças de depósito. |
– Fibrose cística (mucoviscidose). |
– Trissomias. |
– Candidatos a transplante de órgão sólido, cadastrados em programas de transplantes. |
– Transplantados de órgão sólido (TOS). |
– Transplante de células-tronco hematopoiéticas (THCT). |
– Doadores de órgão sólido ou de células-tronco hematopoiéticas (TCTH), cadastrados em programas de transplantes. |
– Hemoglobinopatias. |
– Asplenia anatômica ou funcional e doenças relacionadas. |
Fonte: TelessaúdeRS (2024), adaptado de Ministério da Saúde (2023) [6].
*A partir de 1 ano de idade.
A vacina deve ser realizada em 2 doses, devendo ser observado intervalo de 6 meses entre as doses. Na falta de formulação da vacina contra o VAH em adultos, poderá ser utilizada a vacina pediátrica com o dobro da dose (aspirar dois frascos para completar 1,0 mL). A via de aplicação é intramuscular, mas, excepcionalmente, pode ser realizada pela via subcutânea em crianças com coagulopatias [6]. Esse imunizante pode ser administrado de forma concomitante às outras vacinas do Programa Nacional de Imunização (PNI) [6].
A vacina contra a hepatite A está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e faz parte do calendário infantil, no esquema de 1 dose aos 15 meses de idade (podendo ser utilizada a partir dos 12 meses até 5 anos incompletos – 4 anos, 11 meses e 29 dias) [7]. Também está disponível nos CRIE para pessoas suscetíveis acima de 1 ano de idade com condições de saúde específicas (Quadro 2) [6].
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há recomendação de profilaxia em massa pós-exposição para o VAH na população em geral em situações de catástrofes, como enchentes e inundações [8].
A principal via de contágio do VHA é a fecal-oral, por contato pessoal ou por consumo de água e alimentos contaminados. A transmissão sexual do VHA também vem sendo reportada no contexto das práticas sexuais que envolvam a possibilidade de contato oral-fecal [9] . A disseminação está relacionada com a precariedade da infraestrutura de saneamento básico e as condições de higiene praticadas [10]. Lavar as mãos é uma das estratégias mais eficazes para reduzir a transmissão, uma vez que o vírus pode permanecer ativo na pele por até 4 horas [11,12].
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Este conteúdo é destinado para profissionais de saúde e tem por objetivo fornecer informações atualizadas e baseadas em evidências científicas.
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Referências:
- Sociedade Brasileira de Infectologia, Sociedade Gaúcha de Infectologia, Sociedade Brasileira de Imunizações. Resposta conjunta da Sociedade Brasileira de Infectologia, Sociedade Gaúcha de Infectologia e Sociedade Brasileira de Imunizações ao Programa Nacional de Imunizações e Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul sobre situações prioritárias em imunização no contexto das enchentes do Rio Grande do Sul [Internet]. São Paulo/Porto Alegre: SBI/SGI/SBIm; 2024. Disponível em: https://sbim.org.br/images/files/notas-tecnicas/nt-sbim-sbi-sgi-enchentes-resposta.pdf.
- Secretaria Estadual da Saúde (Rio Grande do Sul), Centro de Vigilância em Saúde. Guia básico para riscos e cuidados com a saúde após enchentes [Internet]. Porto Alegre: Secretaria Estadual da Saúde; 2023 [citado 17 de maio de 2024]. Disponível em: https://admin.saude.rs.gov.br/upload/arquivos/202310/23135541-guia-basico-final.pdf.
- Secretaria Estadual da Saúde (Rio Grande do Sul). Orientações para a Atenção Primária à Saúde para atuação em situações de desastres: guia rápido [Internet]. Porto Alegre: Secretaria Estadual da Saúde; 2024 [citado 17 de maio de 2024]. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1i8K7BuUYunIkyeQGgnMG5w4OtlBkvT0H/view?usp=sharing.
- Ministério da Saúde (Brasil), Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde e Ambiente. Guia de vigilância em saúde [Internet]. 6o ed. Vol. 2. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2023 [citado 17 de maio de 2024]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/svsa/vigilancia/guia-de-vigilancia-em-saude-volume-2-6a-edicao/view.
- Sociedade Brasileira de Infectologia, Sociedade Gaúcha de Infectologia, Sociedade Brasileira de Imunizações, Sociedade Brasileira de Pediatria, Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Associação Brasileira de Medicina de Emergência. Nota Técnica conjunta da Sociedade Brasileira de Infectologia, Sociedade Gaúcha de Infectologia e Sociedade Brasileira de Imunizações: recomendações de imunização para pessoas em situação de enchentes no Rio Grande do Sul [Internet]. São Paulo: SBI; 2024. Disponível em: https://infectologia.org.br/wp-content/uploads/2024/05/V2_NT-Imunizacao-em-enchentes_SBI_SGI_SBIm.pdf.
- Ministério da Saúde (Brasil), Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Departamento de Imunizações e Doenças Imunopreveníveis. Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais [Internet]. 6o ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2023 [citado 17 de maio de 2024]. 176 p. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/vacinacao/arquivos/manual-dos-centros-de-referencia-para-imunobiologicos-especiais_6a-edicao_2023.pdf.
- Ministério da Saúde (Brasil). Hepatite A [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2024 [citado 17 de maio de 2024]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/h/hepatites-virais/hepatite-a.
- World Health Organization. Vaccination in humanitarian emergencies: literature review and case studies [Internet]. Geneva: WHO; 2012 [citado 17 de maio de 2024]. Disponível em: https://terrance.who.int/mediacentre/data/sage/SAGE_Docs_Ppt_Apr2012/6_vaccination_humanitarian_emergencies/Apr2012_session6_humanitarian_emergencies.pdf.
- Ministério da Saúde (Brasil), Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2022 [citado 17 de maio]. Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/centrais-de-conteudo/pcdts/2022/ist/pcdt-ist-2022_isbn-1.pdf/view.
- Ministério da Saúde (Brasil), Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. Manual técnico para o diagnóstico das hepatites virais [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2018 [citado 17 de maio de 2024]. Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/publicacoes/2018/manual_tecnico_hepatites_virais_web_3108181.pdf/view.
- Lai M, Chopra S. Patient education: Hepatitis A (Beyond the Basics) [Internet]. Waltham (MA): UpToDate; 2023 [citado 17 de maio de 2024]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/hepatitis-a-beyond-the-basics.
- Lai M, Chopra S. Hepatitis A virus infection in adults: epidemiology, clinical manifestations, and diagnosis [Internet]. Waltham (MA): UpToDate; 2024 [citado 17 de maio de 2024]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/hepatitis-a-virus-infection-in-adults-epidemiology-clinical-manifestations-and-diagnosis.
Fonte: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia, TelessaúdeRS. Rio Grande do Sul, Secretaria Estadual da Saúde. Quais são as indicações da vacina contra o vírus da hepatite A em situações de enchentes e inundações? Porto Alegre: TelessaúdeRS-UFRGS; 17 maio 2024 [citado em “dia, mês abreviado e ano”]. Disponível em: https://www.ufrgs.br/telessauders/?post_type=perguntas&p=33659&preview=true