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- Categoria: Saúde
- By Agência de notícias da Aids
Olhar intersetorial de Nísia Trindade no Ministério da Saúde é bem-vindo na luta contra aids, dizem ativistas
Ativistas aprovam nomeação de Nísia Trindade para o comando do Ministério da Saúde e dizem que seu olhar intersetorial na saúde é bem-vindo na luta contra aids
O presidente diplomado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), confirmou nesta quinta-feira, í2, que a presidente da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), Nísia Trindade, chefiará o Ministério da Saúde a partir de janeiro. Antes mesmo de ser confirmada no cargo, ela já estava montando sua equipe para a pasta. Nísia já sondou Ana Estela Haddad, professora titular do Departamento de Ortodontia e Odontopediatria da USP, e Ethel Maciel, epidemiologista e professora titular da Ufes, para comandarem secretarias no ministério.
Nos bastidores do Ministério da Saúde, circula que Ana Estela, casada com o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, poderia assumir a Secretaria de Saúde Digital, que deve ser criada no novo governo. Já Ethel, que se destacou com estudos sobre a covid-19 durante a pandemia, é a favorita para a Secretaria de Vigilância Sanitária no Ministério da Saúde. O nome do presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Nésio Fernandes, circula para a Secretaria de Atenção Primária à Saúde.
Nísia Trindade Lima nasceu em 1958, no Rio de Janeiro. É graduada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), mestre em Ciência Política e doutora em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj, atual Iesp).
A pesquisadora é servidora de carreira na Fiocruz, tendo ingressado na instituição em 1987. De 1999 a 2005, Nísia foi diretora da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), unidade voltada para pesquisa e memória em ciências sociais, história e saúde. Também trabalhou na Editora Fiocruz de 2006 a 2011, onde implementou a Rede SciELO Livros.
Nísia foi vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz (2011-2016), período em que coordenou as Semanas Nacionais de Ciência e Tecnologia na instituição e também a implantação de políticas de acesso aberto, com o objetivo de tornar disponível toda a produção científica da instituição.
Em 2017, assumiu o cargo de presidente da Fiocruz. Nísia foi a primeira mulher a presidir fundação e atualmente exerce seu segundo mandato. Durante a pandemia, se destacou pela parceria com a Universidade de Oxford e a indústria farmacêutica AstraZeneca para produção local da vacina contra Covid-19.
Em 2021, Nísia foi condecorada com o grau de Cavaleira da Ordem Nacional da Legião de Honra da França (Ordre National de la Légion d’Honneur), em reconhecimento à sua atuação nas áreas da Ciência e da Saúde, em particular pelas ações da instituição no enfrentamento da pandemia de Covid-19.
Confira a seguir o que dizem sobre Nísia Trindade os ativistas da luta contra aids:
lessandra Nilo, coordenadora geral da ONG Gestos: “É muito bom e vamos celebrar ter uma pessoa como a Nísia Trindade assumindo essa pasta, além do mais ela é uma socióloga e que tem total compreensão sobre os principais desafios da saúde no Brasil, e seria a primeira vez a ter uma mulher ocupando um cargo como esse, tenho certeza, e a Gestos compartilha essa ideia, de que uma mulher à frente do Ministério da Saúde vai olhar com muito mais capacidade para todas as questões que implicam na existência de mulheres, principalmente das mulheres pretas e pobres, que não conseguem ter acesso à saúde de qualidade no Brasil. Não podemos esquecer inclusive o impacto das desigualdades para o HIV, que marca essas questões. A Nísia vem de uma organização que é a Fiocruz, que alinhou todo seu programa “Agenda 2030” ao desenvolvimento sustentável, que coloca as igualdades no centro, e portanto temos a certeza que a Nísia fará uma gestão multidisciplinar, com um olhar intersetorial na saúde do Brasil.”
Harley Henriques, coordenador geral do Fundo Positivo: “Nós do Fundo Positivo estamos bastante confiantes e muito felizes com a indicação da dra. Nísia Trindade como ministra da Saúde do Brasil. Uma profissional que fez uma liderança histórica a frente da Fundação Oswaldo Cruz, especialmente no momento extremamente delicado do ponto de vista da Saúde Pública e Sanitária do Brasil, que foi durante a pandemia da covid-19, combatendo o negacionismo científico e estando a frente do programa que produziu na Fiocruz as vacinas em parceria com a Oxford. Estamos bastante confiantes porque sabemos que a mesma tem uma visão de trabalho horizontal com a sociedade civil, para construção de uma política pública no campo da saúde.”
Veriano Terto, vice-presidente da ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids): “A indicação de Nísia Trindade para o Ministério da Saúde é bem-vinda em um momento em que o Brasil precisa reconstruir as políticas de saúde e as ações em todos os campos que foram prejudicados, para não dizer destruídos nesses últimos quatro anos na administração Bolsonaro. Reconstruir as políticas e ações de saúde e também as instâncias de participação social, que também foram destruídas entre elas, por exemplo, a Cnaids e a CAMS para falar da gente do mundo da aids, fora as outras patologias. É uma grande tarefa, mas acreditamos que a Nísia pelo seu potencial como administradora, como profissional que acredita na ciência baseada em evidências e nas metodologias, isso pode ajudar além do seu conhecimento sobre seu conhecimento histórico dos graves problemas de saúde do Brasil. Isso poderá ajudar, além de seu conhecimento pela passagem na casa de Oswaldo Cruz, de seu mandato pela passagem na Fiocruz . É muito bem-vinda a indicação de uma pessoa que vem de uma instituição comprometida com os princípios da reforma sanitária que são os princípios do SUS: a universalidade, o controle social e a equidade social. E a equidade social pode contribuir muito nessa tarefa de reconstrução que a gente espera que ela leve apesar das dificuldades e que nós tenhamos outra vez uma valorização da saúde e da vida dos brasileiros que foi tão agredida nos últimos anos.”
Márcia Leão, do Fórum de ONGs/Aids do Rio Grande do Sul: “A presença de uma socióloga e que dedica suas pesquisas também para temas interdisciplinares, pode nos trazer um novo olhar para a aids. Espero que a nova ministra traga não só o simbolismo de ser uma mulher nessa importante pasta, mas que consiga, com esse olhar de quem pensa educação e os dilemas sociais, avançar em pautas que estão estagnadas nos últimos anos. Penso ainda, que sua atuação nas cooperações internacionais, também deve trazer importantes frutos para a aids. Para além disso, gostaria que a futura Ministra montasse uma equipe que aumentasse o diálogo com as sociedade civil, reaproximando as discussões e construindo uma agenda conjunta entre gestão, academia e sociedade civil. A valorização do SUS, o respeito a Constituição e o incentivo ao controle social, também devem estar presente. Acredito que assim, poderemos avançar na resposta à epidemia.”
Fonte: Agência de notícias da Aids