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- Categoria: Saúde
- By Fábio Reis
Pesquisa com participação da UniSul/Inspirali identifica prevalência de depressão entre 11% dos trabalhadores
Estudo aponta fatores ocupacionais associados à depressão, com diferenças entre homens e mulheres.
Uma análise de dados da Pesquisa Nacional de Saúde (2019) com mais de 52 mil trabalhadores brasileiros apontou uma prevalência de depressão de 11% — 15,8% entre mulheres e 5,7% entre homens. O estudo identificou que fatores como trabalho noturno, exposição a produtos químicos, ruído e radiação solar estão associados ao risco de depressão, com variações de impacto entre os sexos. A pesquisa, publicada no Journal of Occupational and Environmental Medicine, contou com a participação do professor Daniel Maurício de Oliveira Rodrigues, do curso de Medicina da UniSul/Inspirali, em parceria com USP, UFSC e PUC-MG.
Rodrigues explica que a iniciativa surgiu da ausência de análises nacionais sobre determinantes ocupacionais da saúde mental com recorte de gênero. "Embora a depressão afete uma parcela significativa da população brasileira, as análises sobre os determinantes ocupacionais ainda eram limitadas, sobretudo em relação às diferenças entre homens e mulheres", destaca.
Os pesquisadores utilizaram o questionário PHQ-9 para identificar casos de depressão, considerando pontuações acima de nove. Foram analisadas cinco exposições ocupacionais: trabalho noturno, contato com produtos químicos, ruído, radiação solar e manuseio de resíduos urbanos.
Entre as mulheres, os fatores mais associados à depressão foram estar na informalidade e a exposição ocupacional a agentes químicos, físicos ou biológicos estiveram associados a um risco significativamente maior de depressão. Nos homens, os principais fatores foram o trabalho noturno, o manuseio de produtos químicos, a jornada superior a 44 horas semanais e o absenteísmo por motivo de saúde.
O professor Alexandre Faisal, da Faculdade de Medicina da USP e coautor do artigo, aponta que a diferença de prevalência entre os sexos está alinhada com dados nacionais e internacionais. "Há uma combinação de fatores biológicos, psicossociais e estruturais que explicam essa disparidade. Mulheres enfrentam mais sobrecarga, estresse e têm menos acesso a recursos de proteção", explica.
Políticas públicas
A parceria entre os pesquisadores começou há oito anos, durante um estudo clínico sobre acupuntura e depressão. Desde então, o grupo tem ampliado o escopo das investigações em saúde mental e saúde pública com base em dados populacionais representativos.
Para os autores, os achados podem subsidiar políticas públicas específicas. "É essencial considerar as diferenças de gênero nas exposições ocupacionais. Ações como limitar jornadas, incluir saúde mental nos exames ocupacionais e ampliar a atenção aos trabalhadores informais são caminhos possíveis", afirma Rodrigues.
Embora exista uma Política Nacional de Saúde do Trabalhador, os autores alertam para sua baixa efetividade prática. "A maioria das empresas ainda ignora a saúde mental. O foco segue sendo produtividade, mesmo em ambientes de risco", diz o professor da Unisul.
A pesquisa reforça que o adoecimento psíquico não é um problema individual isolado. Está ligado às condições estruturais de trabalho e deve ser tratado como prioridade nas estratégias institucionais de saúde.